Ando deveras preocupado com a Justiça
Sabemos todos que a Justiça, seja ela qual for, é sempre muito lenta e não são raros os casos cuja resolução se prolonga por anos a fio. Só que quando os arguidos são da “populaça” da “gentalha”, a sentença aparece um pouco mais célere e sem “espinhas”. Ao invés, quando se trata da tal “gente graúda” (pelo menos os que os rodeiam isso lhes fazem crer), então aí, as decisões andam às voltas, às voltas, às voltas, porque há dinheiro e o dinheiro paga bons advogados, e os bons advogados conhecem bem como devem criar nos Juízes as dúvidas necessárias para que uma decisão não seja tão célere quanto desejada.
Sempre assim foi e julgo que sempre assim será. É a lei da vida. Não há ricos sem pobres, nem pobres sem ricos, e as desigualdades irão manter-se para sempre.
É por isso que só os pobres são despedidos. Lembram-se de muitos ricos que o fossem? E mesmo que o sejam, se têm dinheiro tanto se lhes dá que os despeçam como não.
Voltemos à Justiça. Alguém sabe as conclusões de tantos casos que nos últimos anos foram mediáticos como os casos de Aveiro Gate, o caso Dopa, o caso Caldeira, o caso Casa Pia, o caso Freeport, os casos que envolvem Bancos e banqueiros, e ainda de alguns outros que a memória teima em não me oferecer? Pois é, não há volta a dar.
Vem tudo isto a propósito do que se vem passando na Justiça Desportiva. Desde logo porque também é de Justiça que se trata. Desportiva, mas é Justiça. Muito se disse e escreveu do caso Apito Dourado. Agora vem este enorme atropelo à inteligência de todos nós, que é o caso dos castigos aplicados aos jogadores Hulk e Sapunaru do Futebol Clube do Porto e a Vandinho do Sporting Clube de Braga.
Vamos então aos factos tal como os vejo. No caso dos jogadores do FCP a pena aplicada pela Comissão de Disciplina da Liga foi de três meses de suspensão porque a Lei teve a interpretação que os Juízes dela fizeram. Agora a decisão da Comissão de Disciplina da Federação, reduz a pena dos jogadores a três jogos, porque a sua interpretação da Lei é diferente. A primeira ilação que tiro disto tudo é a de que existem não duas, mas muitas formas de interpretar a Lei. E se existe mais de uma maneira de a interpretar, então qualquer das decisões tem fundamento. Em ambas as situações foram Juízes a decidir., ou não eram Juízes??? Quem entende?
Face ao sucedido e muito legitimamente, quer o FCP quer os seus jogadores, sentem-se no direito de serem indemnizados, pois a nova decisão, que penso não será passível de recurso, veio dizer-lhes que afinal não havia razões para a suspensão dos jogadores tanto tempo, com claro prejuízo de ambos.
O caso do jogador Vandinho do SCB, um pouco por “colagem” ao caso portista, trouxe agora para a rua os seus adeptos que clamam por justiça, porque acham que o castigo foi mal aplicado, (obra de benfiquistas claro).
Vejamos agora o que me preocupa nestes dois casos do Apito Dourado e da Suspensão de jogadores, e o que eles têm em comum.
No caso do Apito Dourado, os advogados de defesa do FCP, bateram-se e bem ao que parece, para que as “escutas” não fossem legais. É que não sendo, deixariam de existir provas que indiciassem corrupção e a condenação dos incriminados cairia por terra. E foi o que aconteceu.
Nas suspensões a Hulk e Sapunaru, provavelmente os mesmos advogados, bateram-se para que os Seguranças em serviço no túnel do Estádio da Luz não fossem considerados agentes do espectáculo. É que não sendo, o castigo seria logo muito mais reduzido e os três meses aplicados pelo CD da Liga não eram justos. E foi o que aconteceu.
No caso da suspensão de Vandinho do Braga, entendem os responsáveis bracarenses que ela só foi possível porque interessava que o atleta não jogasse e assim o Braga passasse a jogar desfalcado, logo prejudicado. À boleia dos casos anteriores, em jeito de união do Norte contra o Sul, os adeptos bracarenses vieram para a rua clamando por justiça com cartazes com a palavra VERGONHOSO. Até um autarca, com responsabilidades na região acompanhou os protestos feitos nas ruas de Braga, onde existem muitos e muitos benfiquistas, e é ele pretenso Presidente da Câmara de todos, sejam eles de que clubes forem.
Em qualquer dos casos expostos, o que esteve sempre em causa afinal, foi encontrar os meios para evitar condenações ou suspensões, não importando se os arguidos foram ou não culpados. O que era importante era provar que os meios de prova encontrados não eram legais e não que os arguidos fossem ou não culpados. O que esteve em causa foram as alturas inoportunas dos castigos dos jogadores, porque isso prejudicava os clubes e os próprios e não se eram ou não culpados.
Este conceito de justiça, mexe com as minhas entranhas e não encontro forma de os entender.
No Apito Dourado, se os dirigentes implicados não tivessem andado tantos anos convictos de que poderiam fazer tudo e mais alguma coisa, atropelando regras que ultrapassavam o bom senso, e poderiam implicá-los em processos complicados, talvez que nunca o Apito Dourado tivesse existido.
Nos castigos aos jogadores, os clubes a eles ligados, antes de virem a terreiro defender o indefensável, de virem apontar os dedos a terceiros acusando-os de prejuízos, deveriam olhar para si próprios e chamar à razão os seus jogadores, porque as imagens provam bem que os implicados cometeram efectivamente as agressões de que foram acusados.
Se alguém deveria indemnizar os clubes seriam exactamente os jogadores que com as suas atitudes, essas sim, prejudicaram os seus patrões. Alguém tem dúvidas de que se os jogadores não se tivessem deixado levar por extremismos agressivos, estes casos nunca teriam existido?
Está na altura de deixarem de nos mandar com “areia para os olhos” e não encontrarem nestas atitudes, que afinal patrocinam, razões para esconder as épocas frustrantes que os seus clubes atravessam. São estas protecções que depois dão azo a atitudes em campo de jogadores, como Bruno Alves na recente final da Taça da Liga, que de cabeça perdida, passou o jogo a distribuir “fruta”, sem que fosse por isso castigado. De que têm medo os árbitros? São estas atitudes que fomentam as guerras de claques, e que nos proporcionam espectáculos degradantes como os que se têm visto em redor de alguns campos em Portugal
Está na hora, dos responsáveis se sentarem à mesa e deixarem de se bater por uma guerra Norte-Sul que não leva a lado nenhum. Isto é Portugal e os jogos ganham-se dentro do campo, com lisura e fair-play.
Para o jogo de hoje, entre Benfica e Braga, espero que impere o bom senso e que aquele que merecer ganhar que ganhe. E que esse seja o meu Benfica. Se assim não acontecer, o mundo não pára, a fome não deixa de existir, as catástrofes não deixam de acontecer, e os clubes não irão acabar.
GOLDFINGER
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