quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

FESTIVAL ERÓTICO HOMENAGEIA LOUÇA DAS CALDAS

Foto de Pedro Antunes


Evento mostra exposição nunca vista de cerâmica

As famosas peças de cerâmica das Caldas da Rainha, que se caracterizam pelo seu humor, erotismo e espírito satírico, serão alvo de uma homenagem no III Salão Erótico do Porto, que irá decorrer entre 4 e 7 de Fevereiro no Pavilhão Multiusos de Gondomar, revelou a organização num comunicado.

A organização do evento, que se denomina 'Eros Porto', juntou-se à Confraria do Príapo, um grupo de defesa da cerâmica erótica, com o objectivo de exaltar 'a mais emblemática escultura tradicional portuguesa: o falo das Caldas'.

Esta iniciativa irá incluir uma exposição nunca antes vista de peças em formato fálico, como por exemplo garrafas, canecas e estatuetas das 'Malandrices das Caldas'.

'A produção de cerâmica nas Caldas da Rainha remonta a 1488, mas ganhou destaque nos séculos XIX e XX. A actividade desenvolveu-se historicamente nesta cidade graças aos solos ricos em argila, o que possibilitou que se afirmasse como um centro de criação notável, com cerca de duas dezenas de unidades produtivas', lembram os organizadores.

Correio da Manhã/Pedro Antunes






As canecas das Caldas no Chão da Parada

"Chico das Pichas"

Francisco Agostinho é conhecido pelos amigos como o Chico das Pichas. porque produz a loiça erótica das Caldas no seu atelier no Chão da Parada há 32 anos.

Embora não se incomode com isso, às vezes responde que “pichas agora já faço poucas”. Após todos estes anos dedicado aos falos e às canecas das Caldas continua a dizer que gosta do que faz. “Se começasse de novo, sabendo o passado que tenho, voltaria a fazer tudo. Eu tenho orgulho do que faço, embora nunca tenha ganho muito dinheiro”.

Apesar de não parar de trabalhar, o que produz diariamente não chega para as encomendas. “Nunca pára aqui nada em armazém. Vou fazendo e vendo logo tudo”. Francisco Agostinho orgulha-se também de ter clientela fiel que prefere esperar a ir comprar a outro lado.







Desde 1975 que se dedica à loiça erótica das Caldas. Tinha então 35 anos, era pedreiro de profissão e foi nessa qualidade que foi fazer um trabalho de construção civil às Faianças Rafael Bordalo Pinheiro. Como gostaram tanto do seu trabalho “e viram que eu era uma pessoa responsável”, conta, convidaram-no para lá ficar para trabalhar na cerâmica.

Esteve lá durante cinco anos, mas foi montando um pequeno atelier junto à sua casa onde tinha um forno a lenha. “Comecei a fazer uns bonecos e umas garrafinhas” com a ajuda da sua mulher. Só que a esposa começou a conseguir mais dinheiro do que aquele que ele recebia na fábrica. Por isso não hesitou e decidiu começar a fazer por conta própria os famosos falos das Caldas.







Naquela altura toda a gente fazia produtos destes. Das fábricas, se calhar, só mesmo a Secla, a Bordalo Pinheiro e a Subtil é que não faziam”, diz Francisco Agostinho.

Com os anos foi ele próprio fazendo algumas inovações, como as garrafas-falos envolvidos em fatos de noiva e outros adereços. Também as tradicionais canecas sofreram muitas alterações nas suas mãos. A caneca com a face do Mário Soares, criada por um ceramista do Cencal, foi das mais vendidas de sempre. “Só não vendi mais porque não tinha”, disse.

Francisco Agostinho também não sabe muito bem de onde veio a tradição da loiça erótica das Caldas. Reza a lenda que o rei D. Luís queria oferecer umas prendas diferentes aos amigos e nessa altura terá pedido a ajuda de Rafael Bordalo Pinheiro, tendo surgido o agora famoso falo. As Caldas tornou-se desde essa altura conhecida como terra dos falos, embora se utilize normalmente uma palavra mais brejeira.







Um futuro sem definição

Entretanto, com o declínio das vendas e com o fecho de algumas fábricas mais pequenas, Francisco Agostinho chegou a ser o único ceramista a fazer a loiça erótica das Caldas. Recentemente houve quem tivesse descoberto nisso uma oportunidade, mas é o próprio Francisco Agostinho quem diz que o negócio não é muito rentável. Principalmente se houver muita concorrência, apesar de não se queixar de falta de encomendas. “A outra louça deve ser mais rentável”, acha, justificando assim o abandono dos falos por parte das fábricas.

Nos dias de hoje o que faz mais são as famosas canecas com um pequeno falo no seu interior, mas ainda faz alguns bonecos e dos falos grandes. Quanto às canecas “não vendo mais porque não tenho”.

Por mês saem do seu pequeno atelier milhares de canecas das Caldas feitas por ele, tudo à mão. “Agora estou a trabalhar praticamente sozinho porque a minha mulher tem as netas para tomar conta”.

Chegou a vender muitas peças para o estrangeiro (Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Espanha), mas agora trabalha apenas para o mercado nacional “e só para algumas lojas”.

Em tempos chegou a empregar muitas funcionárias e num ano produziam cerca de 50 mil bonecos com o também tradicional cordão que quando esticado revela um falo. Eram os “jogadores” do Benfica, do Sporting e do Porto os mais procurados, mas os clubes começaram a querer “royalties” pela utilização dos seus símbolos e isso também se perdeu. Chegaram a pedir-lhe 25 mil euros para poder utilizar o emblema do Benfica, “mas isso não irei eu ganhar o resto da vida a vender os bonecos das Caldas”.








Aos 67 anos Francisco Agostinho está preocupado com o futuro desta actividade porque os filhos não quiseram seguir a sua profissão e há pouca gente a interessar-se por esta tradição erótica das Caldas. O ceramista tem feito muito pela divulgação da tradição e apareceu em inúmeros programas de televisão. Às vezes puxando pelo humor, como no Herman Sic e no Cabaret da Coxa, mas também em programas mais generalistas. “Todas as televisões portuguesas já vieram aqui”, salienta.

O vídeo realizado para o Cabaret da Coxa, da SIC Radical, circula na Internet e faz rir milhares de portugueses. “O Rui Unas entrou para aqui e disse para eu falar o pior possível”, contou. A anedota mais recorrente é sempre aquela do “quando chega às cinco não faço nem mais um…” ao que responde sempre “a minha esposa é que diz: a partir de agora não mexo em mais nenhum”, deixando os interlocutores sem resposta.

A Câmara das Caldas chegou a convidá-lo para ir dar formação, mas depois o convite foi desfeito por não ter curso de formador. Muitas vezes foram autarcas ao seu atelier para dar entrevistas, mas Francisco Agostinho nunca teve, nem pediu, qualquer apoio ou foi tido em conta para promover a continuação da loiça erótica das Caldas.

Com certeza que os seus bonecos e as suas canecas fariam sucesso no salão erótico e o nome das Caldas poderia usufruir com isso. Basta haver quem invista nisso.

Pedro Antunes / Oeste OnLine


Fotos da Net

GOLDFINGER



1 comentário:

Fatima disse...

A nossa arte bem explorada podia dar emprego a muita gente....

As loiças das Caldas são mais um exemplo.