domingo, 17 de janeiro de 2010

HOJE ESTOU MUITO TRISTE!





Idoso vive abandonado no restaurante fechado pela ASAE



Joaquim Carvalho foi durante três décadas o proprietário do restaurante mais conhecido de Viana do Castelo. Há seis meses, a ASAE fechou-lhe a casa por alegadamente não ter condições. O desgosto levou o empresário para o desleixo, abandono e miséria.

Foi dos anos 60 aos 80 o salão de festas mais badalado da região de Viana do Castelo e o restaurante predilecto de várias gerações pela sua localização à beira mar, em Afife. Fechado há pouco mais de seis meses pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), o estabelecimento conhece agora a decadência. O proprietário, Joaquim Carvalho, vive lá dentro, abandonado a si próprio e em condições degradantes.

"Não quero sair daqui de maneira nenhuma. Daqui só para o cemitério", diz Joaquim Carvalho, que aos 71 anos atravessa o pior momento da sua já longa vida. Sozinho no seu restaurante "Praia", vive no limiar da miséria humana.

Sem água, aproveita a da chuva em três bacias colocadas nas traseiras do estabelecimento, onde tem um pequena casa, prestes a ficar sem luz eléctrica. As últimas facturas tem sido pagas graças à caridade alheia. Sem tomar banho há mais de dois meses e deprimido até à medula, começou recentemente a receber apoio e refeições do Centro Social e Paroquial de Afife, depois de a instituição ter sido alertada por um vizinho.




Se bem que estejam os dois encerrados, o Restaurante em causa é o que se vê ao fundo na foto



Quase não fala por desgosto

"Quando cheguei aqui, isto estava num estado deplorável. As louças todas acumuladas, não se podia entrar na cozinha com o cheiro. Na altura ainda havia água e limpamos. Agora todas as semanas vimos fazer limpeza, levamos roupa para lavar e todos os dias lhe trazemos comida. Para lavar a louça usamos água da chuva. Esta é uma situação de abandono, porque ele tem cinco filhos", conta Luísa Rocha, auxiliar no centro que presta apoio a Joaquim Carvalho, curiosamente seu antigo patrão. "O encerramento foi um desgosto para toda a gente porque isto era muito conhecido, mesmo por espanhóis".

Manuel Laranjo, comerciante de Afife da geração de Joaquim, foi quem procurou ajuda para o proprietário do estabelecimento. "Não é nenhum bicho que está aqui, é um ser humano. Tem de haver alguém que se interesse", diz revoltado. Em jovem, Laranjo chegou a ser porteiro no "bar da praia". "Era a única casa aqui na região. Chegamos a meter 700 pessoas. Vinha gente de todo o lado para a festa", recorda, lembrando que na altura cobrava de entrada "50 escudos aos homens e 20 às mulheres, uma fábrica de fazer notas".







Hoje, Joaquim quase não fala. Quando tenta as palavras, embarga-se-lhe a voz. "Uma casa destas...não tenho explicação", repete, enquanto mostra o estabelecimento, que se apresenta tal e qual estava no dia em que a ASAE lhe fechou a porta. Centenas de pratos com restos de comida amontoam-se na bancada da cozinha. O cheiro é nauseabundo. Há pouco tempo, foram retiradas dali arcas frigorificas cheias de peixe e carne podre. O proprietário vestido com um robe, percorre os espaços, arrastando os pés metidos nuns chinelos de quarto. "Valha-me Deus", chora.

Jornal de Notícias/ ANA PEIXOTO FERNANDES







Comentário:

Hoje estou muito triste!

De manhã, ao abrir o meu PC, tenho por hábito fazer uma visitinha aos jornais diários, de forma a ficar a par de tudo o que acontece no mundo, e em particular no meu país.

Pois hoje de manhã, a notícia que me saltou à vista foi precisamente a de um homem que aos setenta anos, resolveu “entregar os pontos” à vida e ao infortúnio depois de ter visto a ASAE encerrar-lhe o Restaurante que ele e a família exploravam na praia de Afife, por falta de condições de higiene. Creio que não seria um encerramento definitivo pois acredito que bastaria fazer as obras necessárias para que tudo voltasse ao normal.

Não era portanto o fim do mundo. Muitos outros estabelecimentos similares tiveram o mesmo destino.

Confesso que quando pela primeira vez soube do caso, não fiquei muito admirado com a situação, mas sempre acreditei que com maior ou menor dificuldade tudo iria ao seu lugar.

Pelos vistos, as condições necessárias para isso não estiveram reunidas e este Homem, e o desânimo instalaram-se de forma degradante e desumana.

Nunca fui um grande cliente do “BAR DA PRAIA”, como sempre lhe chamámos, mas sempre o fui visitando, quer em algumas refeições, quer mesmo quando meu Pai fez os seus setenta anos, pois foi o local onde escolhi prestar-lhe a homenagem que ele e minha mãe mereciam.









Não fui só eu a oferecer-lhes uma linda festa que marcou seguramente os últimos anos das suas vidas. A nossa família, os seus empregados e as suas famílias, colaboraram nesta homenagem que levou mais de oitenta pessoas de Lisboa até à praia de Afife, ao “BAR DA PRAIA”, onde todos fizemos a “nossa” festa.

Excelentemente servida, teve a abrilhantá-la ainda a participação do Rancho Folclórico de Danças e Cantares de Vila Praia de Âncora, um Grupo de Cantares Alentejanos e Fados que acompanharam noite dentro.

Nunca mais esqueci o acontecimento e se o “BAR DA PRAIA” já era para mim um lugar mítico na Praia de Afife, a partir daquele dia passou a sê-lo ainda mais.

Para além de Restaurante, o “BAR DA PRAIA” funcionava também ao fim-de-semana como discoteca e era bastante frequentado e conhecido por portugueses e espanhóis.

Nunca ninguém se importou com as condições que o local tinha e não consta que alguma vez alguém se queixasse de problemas de higiene, mas que se adivinhavam lá isso era verdade. Nada que não se resolvesse.

Pois esta manhã, a notícia entrou-me casa dentro e deixou-me profundamente triste. O Sr. Carvalho entregou-se ao destino e vive de forma degradante no seu antigo estabelecimento, à espera não se sabe do quê… do fim???

O mais estranho é que o Sr. Carvalho tem cinco filhos e não vejo que algum o acompanhe, pelo menos as notícias que tenho não apontam nesse sentido. Algo se passará então que nos escapa, mas que não deixa de ser estranho.

Percebo o estado de espírito do senhor Carvalho, provavelmente porque ao longo dos anos a vida não o deixou amealhar o suficiente para poder fazer frente às obras ora exigidas, (pelos motivos não quero nem tenho de me pronúnciar), mas é uma vida inteira “encerrada” sem apelo nem agravo.


Hoje estou muto triste!

António Inglês


Fotos do Jornal de Notícias e da Net

GOLDFINGER


2 comentários:

São disse...

Meu querido Amigo, só posso dizer-te que comungo da tua tristeza.

Bem hajas!

Fatima disse...

António também eu fiquei muito triste. Todos conhecemos este bar e fomos passando por lá...
Logo de manhã quando li a notícia, passei-a aos meus amigos, com uma única pergunta:
Porquê?