quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

A 13 DE FEVEREIRO DE 1965, O GENERAL SEM MEDO FOI BÁRBARAMENTE ASSASSINADO PELA POLÍCIA POLÍTICA PORTUGUESA, NUMA EMBOSCADA FEITA EM ESPANHA




«Todos nós, cidadãos pacíficos duma candidatura pacífica, queremos pacificamente conquistar a paz. Mas os esbirros do governo, como têm visto, andam a chamar-nos subversivos nos jornais e a tratar-nos na via pública como malfeitores. Ninguém sabe, portanto, minhas senhoras e meus senhores, onde isto pode ir ter. Há uma coisa, porém, que quero jurar aqui. Eu estou pronto a morrer pela liberdade!»




A 13 de Fevereiro de 1965, Humberto da Silva Delgado é assassinado pela PIDE, polícia política do Estado Novo. Foi candidato independente às eleições presidenciais de 1958. Questionado sobre qual o destino que daria a Salazar, se fosse eleito, teve a coragem de afirmar: "Obviamente, demito-o".

Conhecido como o "general sem medo" por se opor ao regime ditatorial de António de Oliveira Salazar, caiu numa emboscada e foi assassinado em território espanhol pela polícia política portuguesa.

Tendo-se apresentado às Eleições Presidenciais em 1958, Humberto Delgado congregou à sua volta, inúmeros apoiantes que queriam mudanças para obter um regime democrático.




Não o conseguiram e Américo Tomás, que liderava o partido que sustentava a ditadura de Salazar, foi declarado vencedor nas eleições com 75% dos votos, num processo cheio de irregularidades, característica aliás dos processos eleitorais de ditadura.

No entanto, segundo observadores independentes, Delgado foi realmente o candidato mais votado.

Depois do resultado das eleições, Delgado foi expulso de seu cargo nas Forças Armadas e partiu para o exílio, primeiro no Brasil e depois na Argélia.

A Polícia Internacional e de Defesa do Estado (Pide), que já tinha tentado matar Delgado no Brasil, não podia falhar novamente e planeou minuciosamente o assassinato do opositor na chamada "Operação Outono".

A emboscada começou meses antes, quando membros da Pide se infiltraram nos círculos de confiança do general e o convenceram de que ele tinha que viajar para Badajoz, saindo da Argélia, para tentar derrubar o regime.




Ele tinha tanta confiança de que tudo estava a acontecer dentro do previsto, que enviou de um posto dos correios, quatro cartões postais a amigos residentes em quatro países diferentes, assinados com um pseudónimo e dizendo que continuava vivo e livre.


O assassinato do "general sem medo" foi realizado por quatro agentes da Pide que cruzaram a fronteira entre Espanha e Portugal usando passaportes falsos.

O grupo era comandado por António Rosa Casaco, acompanhado por Agostinho Tienza, Ernesto Lopes Ramos e Casimiro Monteiro, este último autor dos disparos que mataram Humberto Delgado e sua secretária, a brasileira Arajaryr Moreira de Campos.

Anos depois, Rosa Casaco afirmou que ele e Lópes Ramos não sabiam do motivo real da missão e que apenas receberam ordens para deter o general Humberto Delgado, designação muito diferente da supostamente recebida por Monteiro e Tienza.

Depois do assassinato, Rosa Casaco telefonou para o chefe da polícia política do regime, o major Silva Pais, a quem confirmou as mortes.



Dois meses depois, e diante de denúncias dos amigos do opositor português, a polícia espanhola começou a investigar o facto e encontrou a 24 de Abril de 1965, perto da cidade de Villanueva del Fresno, os corpos de Humberto Delgado e de sua secretária brasileira.

Em 27 de Abril de 1974, dois dias após explodir a Revolução dos Cravos, Rosa Casaco abandonou Portugal. Em 1981, foi acusado e julgado à revelia, por assassinato.

Em 1998, o ex-inspector da Pide foi detido na capital espanhola, em cumprimento de um mandato de captura internacional emitido pela Justiça portuguesa. No entanto, não foi extraditado, pois a Audiência Nacional considerou sua a "responsabilidade penal" prescrita, sentença ratificada depois pelo Tribunal Constitucional espanhol.

Casimiro Monteiro foi declarado como autor dos assassinatos à revelia, enquanto Silva Pais, outro dos sete acusados neste processo, não recebeu nenhuma condenação, pois morreu seis meses antes da sentença final.

Em 1990, o "general sem medo" foi nomeado a título póstumo como Marechal da Força Aérea, e seus restos mortais foram levados para o Panteão Nacional em Lisboa.

Para lembrar seu assassinato, no local exacto onde Casimiro Monteiro apertou o gatilho da sua pistola, foi erguido em 1995 um monumento que simboliza o triunfo da liberdade sobre a morte.




Frederico Delgado Rosa, filho de Iva Delgado e neto de Humberto Delgado tem outra versão dos acontecimentos, e diz-nos no seu livro “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”, que Humberto Delgado foi espancado até à morte e não morto a tiro como se tem sustentado até agora.

"A maneira como foi assassinado não fui eu que a inventei", afirmou à Lusa o autor, que disse basear-se na autópsia feita pelas autoridades franquistas apontando "sucessivas contusões cranianas" como a causa da morte de Humberto Delgado.

Segundo o autor, a ideia de que Delgado foi morto a tiro pela PIDE "foi uma mentira conveniente que permitiu ilibar muita gente".

"O processo criminal ficou viciado à partida e quando chegaram tardiamente elementos do processo espanhol já estava construído um dogma em relação ao `como` do crime", disse o investigador, acrescentando que para isso contribuíram depoimentos dos próprios elementos da PIDE que foram detidos.

A versão de que Humberto Delgado fora morto a tiro – "um tiro é rápido e repentino" – permitiu que Casimiro Monteiro fosse o único elemento da brigada da PIDE envolvida neste caso a ser condenado, à revelia, e todos os outros ilibados (incluindo o chefe da brigada Rosa Casaco), acrescentou.

Texto baseado em textos noticiosos da Lusa/EFE/RTP Notícias.

Fotos da Net





GOLDFINGER



3 comentários:

Maria disse...

A História fez-se, na época. E refaz-se agora, com dados novos. Até a célebre frase parece que não foi bem assim...

É um post assinalável. Obrigada.

Beijinho, Goldfinger

Mare Liberum disse...

Amigo

Voltarei para ler com a devida atenção este teu post. Bem-hajas por nos recordares o general Sem medo e os terríveis tempos da ditadura. Para que se não esqueçam!

Bjinhos mil

gaivota disse...

era assim, foi assim...
com muita amargura por factos presentes e de todos os dias, continuamos a ter crimes muito bárbaros!
bonita homenagem, obrigada
beijinhos