terça-feira, 24 de março de 2009

FALANDO DE MULHERES – PARTE II


Dez homens dizem como vêem as mulheres nas suas áreas

Manuel Antunes, cirurgião cardiotorácico, 60 anos

Ninguém espera que eu seja politicamente correcto, que diga que a “chegada” das mulheres à saúde provocou uma revolução fantástica, maravilhosa. E também não digo que homens e mulheres são iguais, não sou hipócrita. Também não sou machista – nunca prejudiquei uma mulher por ser mulher ou beneficiei um homem por ser homem. Só não faço discriminação positiva. Nem isso seria necessário – três quartos dos alunos de Medicina são mulheres. Elas são mais inteligentes? Não, numa determinada fase das suas vidas – na do acesso à universidade – são mais trabalhadoras, mais conscienciosas. Diferentes. Quando escolhem uma especialidade, também fazem opções diferentes das dos homens. Escolhem Pediatria, Cardiologia, Dermatologia... Não são muitas as que se candidatam em primeiro lugar às áreas cirúrgicas, acho que por terem noção de que estas não são adequadas às características femininas, que dependem da natureza e da educação. As mulheres são mais frágeis do ponto de vista físico e também mais dóceis quando comparadas com os homens, que, em geral, são mais belicosos e menos emotivos. Dito isto, não consigo afirmar que a medicina ganhou ou perdeu com as mulheres. Elas são diferentes, nem melhores nem piores. Enfim, talvez sejam mais capazes de estabelecer uma relação afectuosa com os doentes, o que é positivo.



Adelino Gomes, provedor da RDP, 64 anos

A entrada maciça das mulheres no jornalismo começa nos anos 1980. O jornalismo deixa de ser uma profissão de homens. Hoje, se quisermos ver quem são os maiores especialistas em certas áreas, encontramos três ou quatro mulheres e um homem. Mesmo nas áreas pesadas. Veja-se o último grande acontecimento, a guerra de Israel sobre Gaza. Tivemos lá três jornalistas portugueses, duas eram mulheres: a Márcia Rodrigues, da RTP, e a Alexandra Lucas Coelho, do PÚBLICO. O que é que mudou? Uma redacção antiga tinha um bocadinho de caserna, os homens passaram a ter mais tento na língua. Com a chegada das mulheres surgiu outro ambiente. Mas do ponto de vista jornalístico não vejo diferença. Quando leio, não penso: “Vamos ver como é que esta senhora olha para o sofrimento das crianças.” Penso: “Vamos lá ver como é que este jornalista vê isto.” “Este jornalista” – é como se fosse um género neutro. Não quero parecer politicamente correcto, mas a verdade é que estas questões nunca se me puseram. Ainda há disparidades no acesso aos cargos de chefia – sobretudo na rádio. Penso que é exactamente porque elas chegaram em último lugar. Os cargos de chefia exigem alguma veterania. Mas nos próximos anos iremos ter mais, é como uma maré que vai enchendo, uma maré feminina que está aí a chegar.



Rui Reininho, músico, 53 anos


As mulheres na música são tudo: a harmonia e a melodia. A voz feminina é um elemento primordial. É a primeira coisa que um homem ouve quando está dentro da pessoa. Para os seres vivos é quase a música das estrelas, é a primeira voz que ouve. É o respirar, é o sentir, a musicalidade dos úteros que pacifica. Não tenho recordação disso, embora tenha feito muitas regressões. Nasci de cesariana. Uma vez cá fora, é a mulher eco que responde quando nós temos ânsias, fome, necessidade de alguém, ouvimos sempre aquela voz quase como uma ambulância mas no bom sentido. A partir daí queremos sempre ouvi-las, mais a voz do que outra coisa. Quando somos pequeninos e lhes puxamos os cabelos e as empurramos pelas escadas abaixo gostamos de ouvi-las gritar também. E depois gemer. É sempre bonito. Mas não em todas as áreas. Antigamente eu só gostava do fado cantado por mulheres, agora, com o Camané e outros, já admito que os homens possam cantar o fado. Na chamada música ligeira as mulheres são mais suportáveis do que os homens. No chamado pop-rock, não gosto de baladeiras. Não acho graça nenhuma às Céline Dion e às acrobatas da voz. Deixam-me mal disposto. No pop-rock tenho tendência para ver a Xana sempre como “one of the boys”. E depois há aquelas que, como Isabel Silvestre, são a voz da terra. Vozes potentes, vozes maternais.





Miguel Soares, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência, 41 anos


As mulheres são diferentes em ciência como são diferentes na vida, nada que influencie o resultado final para melhor ou pior. Se há alguma área onde se destacam será obra do acaso. Mas temos um problema nas carreiras. No início há muitas mulheres e poucos homens e no final as proporções invertem-se. Há uma disparidade enorme. É inaceitável. Têm de conseguir conciliar a vida familiar com as carreiras e, neste caso, acho que são diferentes dos homens. Pesa mais nelas. Primeiro pelo facto biológico de serem elas a ter um filho. Mas há também um facto social. Vejo o enorme stress em que ficam. Sentem que estão a ser más mães. Vejo o pânico quando me vêm dar a notícia de uma gravidez. Os homens são capazes de ser mais desprendidos. Perco pessoas no grupo por causa disso. Perco mulheres. Há soluções imediatas, remendos, que podem ter impacto, como criar uma creche nos institutos. Não tenho dúvidas de que a vida delas seria mais fácil e com menos stress. É claro que o ideal é mudar isto na base cultural, mas essas mudanças demoram gerações. Vivemos uma realidade pragmática. E, agora, elas desaparecem-nos das mãos. As mulheres na ciência que chegam ao topo e que conseguem conciliar a investigação de alto nível com a vida familiar são mulheres milagre. Não tem de ser assim. Elas não deviam precisar fazer milagres.



Manuel Carvalho da Silva, líder CGTP, 60 anos


O traço marcante do século XXI vai ser o aumento quantitativo e qualitativo das mulheres no trabalho. As mulheres são discriminadas no salário e em todos os mecanismos de protecção: têm pensões, subsídios de doença e desemprego mais baixos. A nível europeu, empurraram a mulher para o trabalho a tempo parcial. Isso vai mudar porque as mulheres não vão aceitar recuar nas conquistas. Em Portugal, as mulheres chegam ao trabalho nos anos 1960, por causa da industrialização, guerra colonial e emigração. Faltavam os homens e, de repente, descobriram-se a saber fazer coisas de que não se julgavam capazes. Os refugiados também impulsionaram a socialização das portuguesas, porque as estrangeiras iam ao café e fumavam... O salário seria um quarto factor, mas não muito, porque elas ganhavam muito menos. E havia homens que não admitiam que elas ganhassem tanto como eles. Hoje, a resistência mantém-se nas chefias, onde entramos no espaço do exercício efectivo do poder. Quando constroem a coesão e decidem agir, as mulheres são mais determinadas e decididas do que os homens. Foram muito importantes na luta pela redução do horário de trabalho. Agora, também há mulheres que incorporaram o pior do homens e que, quando chegam ao poder, são duras, às vezes violentas. É uma atitude defensiva, creio.

Sofia Branco

Publico

Foto da Net

GOLDFINGER





5 comentários:

Mare Liberum disse...

Voltarei para ler com tempo como sempre gosto de fazer. Deixo-te jinhos e desejo-te um bom dia.

Continuação de boas melhoras.

Bem-hajas, amigo grande!

São disse...

Foi bom saber destes pontos de visat, amigo meu.
Grande abraço.

Joaninha disse...

No fundo, pese embora as diferenças obvias, somos iguais :)

beijos

Mare Liberum disse...

Um texto excelente.É cada vez maior o número de mulheres em campos profissionais que durante anos estiveram maioritariamente ligados aos homens e até vedados. Agora é a vez de atribuir-lhes chefias. O género continua a ser discriminado em todo o mundo e não é fácil desmontar um statu quo estabelecido e que, como sabemos, desde sempre foi atribuído ao homem.

Bem-hajas!

Jinhos mil

Efigênia Coutinho ( Mallemont ) disse...

Goldfinger,
sua postagem foi de uma felicidade imensa, claro, somente poderia ser uma pessoa dotada de uma sapiência muito grande,belo espaço cultural.
meus cumprimentos,
Efigênia Coutinho