Mudanças de 2007 para limitar recursos junto do Supremo começam agora a dar frutos visíveis
"Há situações que não têm dignidade para chegar ao Supremo", concorda Eurico Reis, juiz-desembargador do Tribunal da Relação de Lisboa, que considera as novas regras "equilibradas e justas". Na área cível, passou a vigorar o princípio da dupla conformidade. É simples: uma decisão da Relação que confirme a primeira instância, com os mesmos fundamentos, não é passível de recurso para o Supremo. Também na área criminal foram introduzidas limitações, quando as sentenças confirmadas se traduzem em penas de prisão até oito anos.
Eurico Reis sublinha que as questões de direito de personalidade podem sempre subir ao Supremo, mas defende que para casos comuns, como dívidas ou contratos, "é suficiente ter duas instâncias". Um tribunal superior menos atulhado de papelada terá mais capacidade para se concentrar no essencial.
Um recurso é o exercício de um direito, lembra António Martins, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, que não considera o sistema português excessivamente garantístico. Alerta, isso sim, que o problema está nas regras processuais. "O nosso processo enferma da possibilidade de ser mal usado excessivamente", afirma, defendendo que o processo seja "mais simples e desburocratizado".
Sem pôr em causa a importância e validade dos casos para quem os enfrenta, o i seleccionou exemplos de processos caricatos ou que à partida suporíamos de resolução simples, mas acabam enredados em sucessivos recursos.
Esgotos Os tribunais estão habituados a disputas para usar caminhos rurais, mas mais invulgar será guerrear pelo subsolo. Em 2005, dois irmãos invocaram o direito de manterem uma ligação de tubos de esgoto sob a casa do vizinho. O caso foi para a Relação de Coimbra, que indeferiu, considerando que “só por inércia ou comodismo” pretendem manter a tubagem, quando passou a existir uma rede pública de esgotos.
Faca de cozinha A 20 de Março do ano passado, J. assistia à procissão do Senhor dos Passos com uma faca de cozinha na sua posse. Foi quanto bastou para o Ministério Público o acusar do crime de detenção de arma proibida. O Tribunal de Braga rejeitou a acusação “manifestamente infundada”, o que não impediu o procurador de recorrer para a Relação de Guimarães, que em Fevereiro confirmou a decisão: ter uma faca de cozinha não constitui, por si só, qualquer crime.
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Injúria Uma discussão entre vizinhos pode acabar não num, mas em dois tribunais. J. foi condenada, pelo Tribunal de Cantanhede, a 70 dias de multa e a pagar uma indemnização de 700 euros a um vizinho, a quem terá chamado “tolo” e “deficiente”. A fechar a discussão, disse uma frase mais violenta: “A deficiência que tens foi castigo de Deus e a tua mãe é uma puta.” Inconformada com a condenação, recorreu para a Relação de Coimbra. A pena foi confirmada.
Todos os nomes Um “não” de uma conservatória acaba muitas vezes
Telemóvel Casos como este irão desaparecer dos tribunais, já que as operadoras passaram a cortar os serviços a quem não paga a conta. Mas nos tribunais ainda se arrastam casos antigos de dívidas
Família Tribunal de Família, Relação de Lisboa e, no mês passado, Supremo. Foram precisas três decisões iguais para forçar N. a pagar prestações de alimentos ao filho, em dívida desde Setembro de 2004. O pai invocou a condição de desempregado para suspender o pagamento. O Supremo deixa-lhe um recado: “Procurar activa e diligentemente uma actividade profissional ou laboral.”
por Inês Cardoso, Publicado em 02 de Dezembro de 2009
Jornal i
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GOLDFINGER
1 comentário:
antónio, nem me atrevo a falar de tribunais e das (in)justiças além dos temposssssssssss arrastadíssimos que tudo leva!
é um escândalo entre tantos que estão de pedra e cal no nosso país!
beijinhos
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