terça-feira, 28 de julho de 2009

RADIOGRAFIA DE UM GOLPE DE CHARME – PARTE VIII





A operação, que baptizaram como "Vago", começou. Viajaram durante a noite, em dois carros, chegaram ao início da manhã a Casablanca.

Encontraram-se num café, onde tomaram o pequeno-almoço, Palma sempre a enxotar os teimosos engraxadores, para não darem com o revólver 32 que levava na peúga.

Chegaram ao aeroporto, para o voo das 9hl5. Despediram-se de Galvão, que perguntou: "O Palma, a que horas é que achas que estás de regresso, para eu avisar as autoridades marroquinas?" "Às 10 para o meio-dia estamos aqui. Certo como um relógio", respondeu Palma.

Quando avistaram o avião na pista, primeiro susto: não era o DC-6 francês, como julgavam, mas um Super-Constellation da TAP. Pensaram: Pronto, a Pidejá nos descobriu, mandaram um avião cheio de polícias. Discutiram por minutos se continuavam. Avançaram. No check-in, entregaram as sete malas, cheias com os 100 mil novos panfletos que mandaram imprimir.

Viajavam 19 passageiros no avião, dois deles, os únicos portugueses, em primeira classe, que ficava na parte de trás. Amândio, suspeitando tratar-se de pides, disse logo a João Martins, ao ouvido: "Tu ficas aqui atrás. Aqueles dois não se levantam durante todo o voo, nem para mijar! Entendido?" Quando o avião descolou, os operacionais, que se sentavam em lugares separados, levantaramse, um a um, para ir buscar a sua pistola. Maria Helena, que já retirara as armas da cinta, entregou-as subrepticiamente, com gestos de prestidigitadora. Mas foi apenas quando a aeronave saiu das águas territoriais marroquinas que começou a acção propriamente dita.

Palma e Camilo irromperam pelo cockpit. O copiloto estava nos comandos e o comandante, José Marcelino, sentava-se na pequena divisão contígua. Palma apontou-lhe o "32": "Comandante, somos um grupo revolucionário patriótico e estamos a fazer uma operação política, contra o regime ditatorial de Salazar. O senhor tem duas alternativas: ou colabora, fazendo tudo o que lhe for ordenado, ou afasta-se e eu próprio assumo os comandos do avião".

Marcelino, que estava de costas, deu um salto, assustado. "Que é isto, o que é que os senhores querem?" "Pretendemos voar baixo sobre Lisboa, o Barreiro, Beja e Faro, e lançar panfletos. Depois, regressaremos a Tânger. Queremos fazer isto garantindo a segurança de todos".

"Mas eu não tenho combustível para isso", ripostou o comandante. "E é impossível abrir as janelas para lançar panfletos, por causa da pressão..." "Não? Então mostre-me o plano de voo".

Palma, com modos rápidos de conhecedor, analisou os documentos de voo e concluiu que havia combustível suficiente. E esclareceu logo o problema da pressão: "Descemos abaixo de 3 mil pés e fazemos a despressurizaçáo. Depois, podemos abrir sem perigo as escotilhas de emergência e lançar os papéis".

Marcelino declarou imediatamente que era dele a responsabilidade dos passageiros e que, portanto, obedeceria, sem abandonar os comandos.

Cá atrás, começava a servir-se o pequeno-almoço. Uma das hospedeiras, Pilar Blanco, queixou-se à colega mais velha, Maria Luísa Infante: "Estão uns homens no cockpit. Não me deixam entrar".

O comissário de bordo, Orloff Esteves, riu-se.

"O quê? Eu vou lá. Vai ver como me deixam entrar". E entrou, de facto. Mas não saiu mais.

Paulo Moura

Foto da Net

GOLDFINGER



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