Como eu gostaria então de fugir a esta saudade: Oh, se eu voltasse,
se eu voltasse a ser criança e me fosse dado sê-lo e estivesse sentado
apoiando-me nos futuros braços e lesse a história de Sansão
e de como sua mãe gerou primeiro nada e depois tudo.
Não era ele já em ti um herói, ó mãe, não iniciou
em ti já, a sua escolha imperiosa?
Milhares fermentavam no seio e queriam ser ele,
mas, olha; ele tomou e deixou -, escolheu e pôde.
E quando arrasou colunas tudo isso foi como quando
saiu do mundo do teu ventre para o mundo mais estreito, onde ele
continuou
a escolher e a poder. Ó mãe dos heróis, ó nascente
de rios caudalosos! Vós, desfiladeiros,
nos quais, em pranto, saltaram do alto do coração,
jovens mulheres, futuras vítimas do filho.
Pois na vertigem do passar do herói pelas breves paragens do amor,
Cada bater de coração por ele o erguia ao alto,
e ele, ao findarem os sorrisos, já voltado – diverso.
Rainer Maria Rilke
Fotos da Net
GOLDFINGER
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