quinta-feira, 23 de julho de 2009

RADIOGRAFIA DE UM GOLPE DE CHARME – PARTE V





No início dos anos 60, Marcelino era já um profissional tão respeitado na companhia, que o ministro da Guerra da altura, o general Gomes de Araújo, não confiava a mais nenhum piloto a sua mulher e filha. Nas deslocações que as duas faziam frequentemente a Paris, para ir às compras, viajavam sempre nos voos e ao cuidado especial do seu comandante preferido.

Uma noite, Marcelino, na companhia de uma jovem, conduziu o carro até um certo parque, na zona de Cheias, onde, à época, muitos homens e mulheres consumavam, no sigilo tácito dos carros, os seus namoros ilícitos. Marcelino, que já perdera a conta a quantas vezes ali estivera, não tinha o hábito de olhar para quem estava no carro do lado. Mas naquele dia olhou. E... surpresa! Quem, num afá, se recreava pacificamente com uma beldade semipubescente? O ministro da Guerra! Em pânico, Marcelino deu meia-volta, mas não antes de o ministro o ter enxergado. E quando, mais tarde, a legítima esposa de Gomes de Araújo veio a saber do caso deste com a jovem, o ministro convenceu-se de que fora Marcelino, com as suas relações privilegiadas com a senhora de Araújo, o delator. Nada mais falso mas, a partir dessa data, acabaram-se as compras em Paris e Marcelino passou a contar, na sua folha de serviço, com um ódio de morte da parte do ministro da Guerra.

Escaldado com os maus encontros em Cheias, Marcelino arranjou outros estratagemas para namorar secretamente, nomeadamente com a jovem hospedeira da TAP Maria Luísa Infante, por quem entretanto se tomou de amores.

Nos dias 10 e 11 de Novembro de 1961, por exemplo, os voos Lisboa-Tânger-CasablancaLisboa deveriam ser efectuados, como acontecera nos últimos meses, por um DC-6 francês da UAT, que a TAP fretava quando não dispunha de aviões suficientes na sua frota. Apesar de o avião ter matricula francesa, era um voo TAP, pelo que a tripulação, que viajaria até Casablanca e aí pernoitaria, para regressar no dia seguinte a Lisboa, era da companhia portuguesa. Pois nesse dia, José Marcelino estava escalado para fazer o voo da TAP Lisboa-Porto, num Super Constellation de última geração, de nome Mouzinho de Albuquerque. Ora Marcelino, que tinha competência para alterar as escalas de serviço, ao ver que Maria Luísa faria o Lisboa-Tânger-Casablanca no DC-6 francês, decidiu, à última hora, mudar tudo: ele, Marcelino, voaria com o Super Constellation para Marrocos, com a tripulação que incluía Maria Luísa, e o DC-6 faria a carreira para o Porto. O objectivo era assistir, com Maria Luísa, a um espectáculo de dança do ventre e dormir com ela, em Casablanca. A hospedeira soube do plano minutos antes da partida, e ficou radiante.


Paulo Moura

Foto da Net

GOLDFINGER



2 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Estou a acompanhar esta radiografia com muito interesse. Bem escrita, em posts não muito longos, que nos deixam sempre com vontade de ler o seguinte.
Um abraço e tudo de bom

Elvira Carvalho disse...

Voltei para dizer que está uma surpresa no Coisas Minhas. Quando puder dê uma espreitadela. E se vir a sua casa...
Um abraço